"A revolução dos 20 centavos mostra que a fantasia
acabou" diz o jornal, citando que "espetaculares 10 anos de crescimento"
tiraram "cerca de 30 milhões de pessoas da pobreza" com novas demandas
que não foram atendidas.
Segundo o jornal, a chamada nova classe média "pode
consumir como nunca", mas "as mudanças sociais em outros setores não
acompanharam as demandas desta nova classe, ainda precária".
O editorial cita que "não há problema" em cultivar a
imagem global do Brasil com investimentos de US$ 12 bilhões em estádios
de futebol, mas "não quando a vida é tão dura para a maioria". "Eles
pagam impostos iguais aos de primeiro mundo e recebem em troca serviços
públicos de má qualidade de países em desenvolvimento". "Ônibus lotados e
tráfego pesado tornam as viagens diárias caras e um desperdício de
tempo. A corrupção do governo prevalece."
Para o FT, os brasileiros tentam se posicionar "entre o
Brasil 'velho', que teriam deixado para trás, e o glorioso Brasil 'novo'
que o governo diz ser o país em que vivem". "Isso talvez esteja em
sintonia com uma tendência que corre entre os investidores: a de que o
modelo brasileiro chegou ao seu limite".
"Em toda América do Sul, cidadãos estão fartos de ouvir
como as coisas são boas", diz o FT, acrescentando que os protestos no
Brasil vão causar preocupações nos mercados financeiros a respeito dos
mercados emergentes como um todo e podem indicar que a "salada política
dos velhos dias e o dinheiro fácil do passado podem estar chegando ao fim".
Daily Telegraph
Em um artigo de opinião, intitulado "Apesar do boom das commodities, o Brasil está perto de entrar em ebulição", o jornal britânico Daily Telegraph diz que a frustração que desencadeou os protestos no país se explica pelo fato de as pessoas "terem perdido fé no processo político", a exemplo do que ocorreu em outros países da região.
Em um artigo de opinião, intitulado "Apesar do boom das commodities, o Brasil está perto de entrar em ebulição", o jornal britânico Daily Telegraph diz que a frustração que desencadeou os protestos no país se explica pelo fato de as pessoas "terem perdido fé no processo político", a exemplo do que ocorreu em outros países da região.
O texto, assinado por Daniel Hannanfaz, faz uma
retrospectiva dos acontecimentos políticos nos países da América do Sul,
que, nas últimas três décadas saíram de ditaduras militares, passaram
por governos neoliberais que "desperdiçaram suas chances e, em
desespero, optaram pela esquerda populista". "Hugo Chávez na Venezuela,
Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, Cristina Kirchner na
Argentina e Luiz Inácio Lula da Silva, padrinho carismático de Dilma
Rousseff, no Brasil".
Segundo o texto, este modelo funcionou durante um tempo.
"As pessoas preferiam eleger os populistas simplesmente pelo fato de
que não eram da velha oligarquia. Mas mais cedo ou mais tarde, como
acontece com muitos governos socialistas, o dinheiro acaba", diz o
artigo. "Esse momento chegou para o Brasil e os brasileiros sentem
isso".
Cenas de guerra nos protestos em SP
A cidade de São Paulo enfrenta protestos contra o aumento na tarifa do transporte público desde o dia 6 de junho. Manifestantes e policiais entraram em confronto em diferentes ocasiões e ruas do centro se transformaram em cenários de guerra.
A cidade de São Paulo enfrenta protestos contra o aumento na tarifa do transporte público desde o dia 6 de junho. Manifestantes e policiais entraram em confronto em diferentes ocasiões e ruas do centro se transformaram em cenários de guerra.
Durante os atos, portas de agências bancárias e
estabelecimentos comerciais foram quebrados, ônibus, prédios, muros e
monumentos pichados e lixeiras incendiadas. Os manifestantes alegam que
reagem à repressão da polícia, que age de maneira truculenta para tentar
conter ou dispersar os protestos.
Mais de 250 pessoas foram presas durante as
manifestações, muitas sob acusação de depredação de patrimônio público e
formação de quadrilha. A mobilização ganhou força a partir do dia 13 de junho,
quando o protesto foi marcado pela repressão opressiva. Bombas de gás
lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar na rua da Consolação deram
início a uma sequência de atos violentos por parte das forças de
segurança, que se espalharam pelo centro.
O cenário foi de caos: manifestantes e pessoas pegas de
surpresa pelo protesto correndo para todos os lados tentando se
proteger; motoristas e passageiros de ônibus inalando gás de pimenta sem
ter como fugir em meio ao trânsito; e vários jornalistas, que cobriam o
protesto, detidos, ameaçados ou agredidos.
As agressões da polícia repercutiram negativamente na
imprensa e também nas redes sociais. Vítimas e testemunhas da ação
violenta divulgaram relatos, fotografias e vídeos
na internet. A mobilização ultrapassou as fronteiras do País e ganhou
as ruas de várias cidades do mundo. Dezenas de manifestações foram
organizadas em outros países em apoio aos protestos em São Paulo e
repúdio à ação violenta da Polícia Militar. Eventos foram marcados pelas
redes sociais em quase 30 cidades da Europa, Estados Unidos e América
Latina.
As passagens de ônibus, metrô e trem da cidade de São Paulo passaram a custar R$ 3,20 no dia 2 de junho.
A tarifa anterior, de R$ 3, vigorava desde janeiro de 2011. Segundo a
administração paulista, caso fosse feito o reajuste com base na inflação
acumulada no período, aferido pelo IPC/Fipe, o valor chegaria a R$
3,40.
O prefeito da capital havia declarado que o reajuste
poderia ser menor caso o Congresso aprovasse a desoneração do Programa
de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (Cofins) para o transporte público. A proposta foi aprovada, mas não houve manifestação da administração municipal sobre redução das tarifas.
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